segunda-feira, 25 de março de 2013

3x4


Eu poderia dizer que agora estou na minha cama escutando as gotas de chuva se intercalarem no espaço, ou que estou pensando em como o jornal do dia anterior foi interessante. Eu poderia dizer que estou sentada, observando a minha cachorra latir com alguma coisa, ou pensando em como a minha pilha de livros está estagnada. Eu poderia dizer que não penso em você. Eu poderia dizer que você só é mais um em um milhão, ao invés o meu número um de um milhão. Aquele um que te deixa sem ar. Eu poderia dizer que quando você passa por mim, eu não tenho taquicardia e as minhas pernas não fraquejam. Eu poderia dizer tudo isso, mas seria uma mentira enorme. E bom, em toda a minha experiência nunca gostei de mentiras, embora mentiras enormes deem bons textos.  Me contento em escrever de forma catastrófica sobre a gente, contato que eu não tenha que mentir.

Estamos avisados? Espero que sim.

Eu gosto de lanchar nas escadas da faculdade todos os dias. Eu não sei bem, mas me sinto em GG, ou quase isso. Nesse intervalo de tempo, eu provavelmente vou estar com os meus fones de ouvindo, efetivando a minha tendência em perder a minha audição. Ou também, muito provavelmente com um livro aberto nas minhas pernas. Eu não sei bem o motivo, mas às vezes nesses momentos eu penso em você. Talvez por estar escutando Coldplay ou por estar lendo um romance em que tudo se encaixa na gente, ou no que eu imaginei que a gente pudesse ser.

Fiquei pensando naquele comecinho de janeiro. No começo de ano onde todo mundo promete secretamente ser uma pessoa melhor, agarrar oportunidades e viver - importante mesmo, é viver. Naquele comecinho de janeiro a minha promessa de ano novo foi esquecê-lo. Eu me dei um prazo. Eu gosto de me dar prazos. É uma questão de esperança, ou de eu-só-posso-apostar-nisso. Lembro de ter dito "Eu dou a você um dia. Um dia para aparecer. Só um dia.". Você nunca soube desse prazo. E talvez não importasse que soubesse: você não iria aparecer.

Você não apareceu.

Eu recebi uma mensagem. Acho que você provavelmente deveria estar na sua festa de virada - assim como eu estava na minha. Eu recebi uma mensagem pelas 4h da manhã. Uma mensagem que eu li uma trezentas vezes seguidas e apaguei. E sabe, lá no fundo coberto e escondido eu rezei. Rezei para que você me ligasse e mais uma vez você não ligou.

Um mês depois eu te vi numa festa. Nós temos o mesmo círculo. Amigos que são amigos de amigos. Tudo termina com a gente no mesmo ambiente. Uma cretinice do destino. Ou não. Eu nunca havia notado o quanto você fica bonito em traje de passeio completo. Aquela sua camisa azuladinha quase da cor dos olhos da minha avó, me fazia transpirar. Te vi. Paradão perto de uma coluna – talvez olhando para mim. Talvez não. Te vi, enquanto eu sorria das piadas sem graça dos meus quase-amigos de um grupinho o qual eu estava infiltrada naquela noite.

Me deu uma vontade insana de ir até lá. Desisti. Fiquei pensando no barulho que os nossos encontros faziam na minha cabeça. Nossa situação é tão complicada. Eu nem sei se realmente você ainda gosta ou gostou de mim. Mas, meu Deus, como eu queria que gostasse. Te vi , e lá no fundo, enterrado e cheio de lama, eu talvez não desejasse te ver.          

Se eu não tivesse com tanta vergonha da minha melhor amiga, eu teria ido. Se eu tivesse respondido com a verdade, quando ela perguntou “tu quer ficar aqui ou dar uma volta?”. Ficar, ficar, ficar. Era tudo o que passava pelo meu humilde pensamento. “Sair, sair, sair!”. Foi tudo o que passou entre os meus lábios. E bom, nós saímos. E eu acho que com essa saída eu terminei te perdendo... meio que para sempre.                   

Até que a recepcionista me levou até a sua mesa. Que seria a partir daquele momento, minha também. Eu já conhecia todo mundo. Seus avós, suas tias, seus primos, sua irmã. Conversamos como se eu ainda fosse parte deles, ou de você. Tempos depois, resolvi caminhar, sentei, falei com mais duzentas pessoas, de vez em quando olhando para os lados, procurando por você.

A festa foi chegando ao fim. Nós não nos encontramos mais. Eu queria ter congelado. Eu queria ter te chamado para fugir, ou te beijado, ou sei lá o quê. Eu queria você comigo de qualquer jeito. Queria nada, ainda quero. Eu esperei que você falasse comigo, como no natal do ano passado, e você não falou - mas aí é outro texto, mas aí é outra história. 


Clara V.

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